terça-feira, 14 de abril de 2009

#34 Pelo vidro

Sempre gostei do Largo do Machado. Me lembra minha infância, pegando o metrô no Flamengo e saltando na próxima estação - Largo do Machado -, para ir ao dentista. Até hoje não entendo por quê as pessoas tem medo de dentista. Adorava o barulhinho dos aparelhos, anestesia era curioso e o cheiro do consultório era estranho, mas único. E sempre depois da consulta, eu comia um pão de batata com presunto e queijo, que, sinceramente, era a alegria da visita odontológica.

Com os anos, as passagens pelo bairro limitaram-se. Geralmente passo olhando pelo vidro do 996, enquanto o ônibus se transforma em uma verdadeira sardinha em lata.

Ontem, por exemplo, olhava a galeria na qual se encontra o consultório da minha dentista e vi dois rapazes na calçada. Um tocava violino e outro pandeiro. Vestiam roupas simples, bem simples. Todos passavam com pressa e ninguém prestava atenção na música, que certamente deveria ser, inusitadamente, animada.

Um garotinho e sua vó se aproximavam dos dois rapazes. Ele olhou e parou, forçando sua vó a parar também. Chegou bem perto do cara que tocava o violiono e começou a dançar. As pessoas que passaram continuavam não se importando, só o menino e a avó. Quando acabou a dança, a avó e o menino aplaudiram e o ônibus andou, me impedindo de ver como se finalizou a cena.

Um vendedor de rua no centro de Niterói consegue atrair uma multidão com seu produto maravilhoso que descasca frutas e legumes com rapidez. Dois jovens, com apenas a música, atraem uma criança. Não sei o que vale mais.